terça-feira, 4 de agosto de 2015

Os Sete Samurais


    Quando falamos sobre Força e Honra, muitas pessoas não querem entender o fato de que o ideal de vida masculina recebe todo um peso cultural de milhares de anos de exemplos de valores e virtudes para que os meninos tenham grandes exemplos para se espelharem e se tornarem grandes homens.

   Homens transformaram atos de bondade, benevolência e altruísmo em feitos gloriosos. Onde feitos coragem, bravura, piedade, astucia e um forte senso de justiça se tornaram os padrões heroicos.
    Para lembrar as pessoas da grande capacidade do ser humano em fazer o bem!

   E para falar com vocês sobre Força e Honra, vou usar um exemplo que qualquer pessoa pode entender ao procurar assistir este filme clássico dirigido por Akira Kurosawa!

  
Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai 1954)
  Dirigido por Akira Kurosawa
  Escrito por Hideo Oguni, Shinobu Hashimoto e pelo próprio Akira Kurosawa

  Para situar o filme tenho que explicar que a época do regime Sengoku no século XVI era de pós guerra total. Existia fome e miséria por todo lado e as poucas vilas de agricultores viviam sob o perigo de bandidos que saqueavam, estupravam, matavam e levavam mulheres para servirem de escravas sexuais.
  Então, para imaginarem o começo deste filme, imaginem que vocês acabaram de ouvir 40 bandidos conversando sobre saquear suas casas daqui a poucos meses. Bom, é o que acontece aqui e temos toda uma comunidade pobre completamente desesperada. Temos choro e lamento até de homens adultos.
  E então, conversando com o patriarca da aldeia, ele chega a conclusão de que precisam contratar 4 Samurais pobres e provavelmente famintos para tentar ajudar usando a única moeda de troca que a aldeia tem: Comida!

 

Desmistificando os Samurais
Os Samurais históricos não tinham nada de diferentes de jagunços. A tradução literal de samurai é servo e sua classe guerreira era tão orgulhosa que um samurai poderia até mesmo se tornar um vagabundo que prefere não trabalhar. Dificilmente as leis eram aplicadas aos samurais. E por séculos, existiu até mesmo leis que permitiam que samurais simplesmente tivessem o direito de matar qualquer pessoa que encontrassem perambulando pela noite.

Explicando melhor sobre os samurais, alguns moradores da aldeia vão até a cidade próxima para tentar encontrar guerreiros dispostos a lutar. Mas de deparam com guerreiros orgulhosos que se recusam a tal serviço. Insultados com a oferta digna de mendigos! Os lavradores chegam até a passar fome para economizar e contratar os Samurais...




   GI - A Justiça e Moralidade

GI também significa Atitude direta, razão correta, decidir sem hesitar. 

Os lavradores estão praticamente desistindo quando de repente se deparam com a visão de um Samurai que raspa seus cabelos em meio a uma multidão. Curiosos, eles procuram saber o que ele esta fazendo e descobrem que um bandido foi cercado em um celeiro e que ele tem um menino como refém. E que aquele estranho Samurai estava raspando a cabeça para se passar por um monge afim de resgatar a criança. Enquanto isso, todos estão preocupados com a criança, com medo de atacar o bandido e ele matar o inocente menino. O guerreiro se despede de suas roupas e de seu cabelo de samurai, pede roupas de monge e dois bolinhos de arroz. Ele oferece dois bolos de arroz (de muito valor em uma época de fome) para o bandido e em seguida adentra rapidamente o celeiro para mata-lo e resgatar a criança sem esperar nenhuma recompensa!

Depois de desmistificar os samurais, a sequencia mostra exatamente o comportamento diferente de um Samurai que segue o código Bushido como estilo filosófico de vida!


  O Samurai se chama Kambei Shimada (Takashi Kimura) e simboliza o exemplo de masculinidade que todos nós procuramos nos espelhar. Guerreiro forte, honrado e altruísta. Mas que se nega a defender os fazendeiros em troca de comida.




CHUU - O Dever e a Lealdade

Para convencer os samurais a trabalhar por comida, existe toda uma conversa sobre responsabilidade. Quando Kambei é convencido de que todo o pouco que os fazendeiros possuem está sendo oferecido para samurais é justamente o melhor que pessoas famintas tem a oferecer.

 E então planeja que a melhor defesa serão 7 Samurais reunidos para lutar contra os 40 bandidos por um ideal de justiça de defender as pessoas indefesas. Em troca apenas de comida. Kambei é o exemplo de lider que consegue reunir outros Samurais.

 

Chamam a atenção dois guerreiros em especial




   Katsushiro Okamoto (岡本勝四郎) interpretado por Isao Kimura, jovem filho de familia aristocrata chama a atenção justamente por querer ser aprendiz de Kambei. Mesmo sabendo que ele era um Ronin sem mestre.
   Ele mostra exatamente a juventude que se depara com valores e virtudes que idealiza e que irão moldar as suas atitudes para o futuro. O poder que bons exemplos de masculinidade tem para com os mais jovens...

Kikuchiyo (菊千代), vivido por Toshiro Mifune. O último Samurai a se juntar ao grupo nem mesmo é um Samurai. Ele é um filho de fazendeiros, bêbado, mal-educado, sem disciplina, analfabeto e que tentou convencer os outros samurais com uma certidão de nascimento falsa. Mas como não sabia ler, nem desconfiou que estava se passando por uma criança de 13 anos! Dai ele ganhou o apelido de 13 anos!

Dentre todos os samurais, estes dois chamam a atenção por não serem samurais. Mas jovens que procuram a aventura justamente para encontrarem seus caminhos na vida. O jovem sempre deve procurar por seu lugar no mundo.




REI - Polidez e Cortesia

O filme faz questão de brincar sobre as relações entre os fazendeiros e os samurais. Akira Kurosawa faz questão de colocar toda a angustia e desolação dos fazendeiros em contraste com os samurais criando cenas e personagens profundos que fazem perguntas muito humanas.

Uma das sequencias mais marcantes é que Kambei pede a seu aprendiz para dar uma boa paulada na cabeça de todo samurai que entrar na reunião. Isso mesmo, pegar um pedaço de pau e dar uma boa paulada nos miolos de quem entrar na reunião para a batalha. Isso serve exatamente para perceber que um samurai de verdade não cai na armadilha! Todos passando no teste! Ou não...

 

A chegada dos samurais na vila que devem defender também merece atenção. Afinal, um dos fazendeiros fica completamente apavorado por ter uma filha jovem, bonita e solteira chamada Shino, vivida pela atriz Keiko Tsushima. Para evitar que sua filha Shino se casasse com algum samurai, ele cortou o cabelo da filha e a vestiu com roupas de menino.


 

YUU - Coragem e Bravura heroica

O filme estabelece os samurais definido toda a estratégia de suas ações para proteger a pequena aldeia. São 7 Samurais contra 30 bandidos ou mais. Eles fazem questão de treinar os moradores o melhor que podem.

Uma das sequencias mais icônicas é sobre os fazendeiros terem para si armaduras de antigos samurais que no passado tentaram roubar a vila. Os samurais vivos se negaram a vestir as armaduras dos samurais mortos, por fazer parte do código de honra respeitar a posse dos samurais mortos como sendo iguais.

Mas Kikuchiyo faz um importante dialogo sobre como os próprios samurais do passado terem sido injustos com os fazendeiros. Roubando, matando e estuprando os fazendeiros. É um dialogo emocionado que leva Kikuchiyo às lagrimas e explica um pouco de seu passado. Ele próprio era apenas o filho de um fazendeiro.

Diversas cenas como essa mostram a diferenças de pontos de vista entre os fazendeiros e os samurais.

 

O inicio do combate vem com a visita de bandidos para ver como as colheitas estão. Os samurais precisam pegar os poucos bandidos desprevenidos e então armar um ataque surpresa contra os bandidos para diminuir seu número.

Os bandidos então resolvem atacar o povoado e se inicia as melhores sequencias de ação do filme.



 

JIN - Compaixão e Benevolência

Faz parte do caráter machista dos samurais serem bondosos com as crianças!

Tem uma cena onde Kambei faz um pequeno garoto dormir enquanto discute estratégias de guerra com os outros assim como rir e fazer piadas junto aos outros samurais.
   Com certeza um exemplo completo de masculinidade mostrada através do ser humano que é ao mesmo tempo um guerreiro corajoso, o brincalhão que sabe contar piadas e o homem gentil que protege as crianças. Todos os samurais tem todo o respeito com as crianças. Alguns brincando mais, mas sempre existe o respeito máximo com as crianças.

Em um momento de benevolência, os samurais podem ser vistos dividindo sua preciosa comida com as crianças! Reunindo as crianças no pátio e contando piadas alegres para em seguida lhes entregar o mesmo arroz pelo qual os samurais estão dispostos a morrer! Todo o motivo de proteger as pessoas é por misero arroz, mas eles dividem tudo com as crianças enquanto contam piadas perguntando quem tem uma irmã bonita!

Aqui também chamo a atenção.

Mais tarde no filme, um bandido é capturado vivo. Enquanto os fazendeiros querem mata-lo, os próprios samurais querem evitar o linchamento por ser um prisioneiro implorando pela vida! Mas ao final, uma velha senhora que teve toda a sua família morta pelos bandidos se aproxima para se vingar. Iniciando o linchamento.

Mas deixando para todos nós, publico, o dialogo sobre o que é justo ou não na mesma situação.


Outro momento dramático foi quando os bandidos tacaram fogo em um moinho e mataram uma família inteira menos um simples bebe. Um dos samurais cai aos prantos de um choro sincero enquanto grita que ele mesmo é como aquela criança! Que a história de sua vida se repetiu em frente a seus olhos!

 


MAKOTO - Sinceridade e Veracidade total

O jovem aprendiz Katsushiro e a jovem moça Shino que deve se vestir de homem aos poucos se revelam. Ela, filha de um humilde fazendeiro que não conhece nada do mundo. Ele, jovem bem abastado que procura a arte do bushido para definir a si mesmo nesta vida.

Ambos personagens escondem quem são, ambos se revelam um ao outro. Existe um amor juvenil e sincero entre eles.

Sempre faço questão de ressaltar o respeito as mulheres em filmes machistas. Pois, normalmente elas tem outro ponto de vista sobre honra, justiça e violência. Shino não é diferente. Agindo como voz da razão.

 


MEIYO - Honra e Glória


Os Sete Samurais é um filme épico que vale a pena ser assistido até hoje, mesmo que tenha sido "refilmado" pelo menos umas cinco vezes por Hollywood. Pelo simples fato de que o contexto de que o filme mostra homens tão comuns, falhos e humanos praticando um ato heroico daqueles, pois faz parte de uma verdadeira escola de pensamento que não aprendemos na escola. O bushido!


Um comentário:

  1. Acho que tu não conseguiria entender as noções de ética, honra, desapego e amor ao próximo propostas pelo Kurosawa nesse filme nem se alguém tivesse a pachorra de desenhar pra ti.

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