quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Os Incríveis 2

Era uma vez antes da alvorada da humanidade, na pré-história, quando o ser humano fazia parte da cadeia alimentar de todos os grandes predadores com quem cruzavam caminho. Deste tempo, um comportamento de sobrevivência de centenas de milhões de anos na natureza passou a ser admirado e até celebrado pelos seres humanos. 
Era o comportamento de leões, lobos, gorilas e tantos outros que possuíam a estratégia de sobrevivência de respeitarem e protegerem as suas famílias. Esse comportamento de sobrevivência familiar foi seguido pelos seres humanos e aos poucos se tornando um ideal predominante em toda a nossa cultura como um ideal heroico e romântico. 
Surgiram assim os primeiros heróis. No principio, homens comuns com histórias de superação, de coragem e aventura. Mas não demorou muito, suas histórias começaram a girar em volta de valores e virtudes que moldariam o caráter dos meninos para formar homens de virtudes. 

E este filme de animação segue a história criada por Brad Bird em homenagem aos heróis que sempre admirou. 

Os Incríveis (Incredibles 2 2018) 
Dirigido e escrito por Brad Bird  

Os Incríveis 2 começa exatamente onde o filme anterior terminou. Com a família unida abraçando a sua própria história como super heróis que luta em equipe para deter um vilão toupeira. É muito bom o começo do filme mostrando personagens de ação com aquela pegada cômica de família. Principalmente com as crianças brigando para ver quem cuida do bebe Zezé. 
É tanto desespero pra entrar em ação que nem percebem que colocaram o bebe em perigo. 
Claro, não vou dar spoilers da sequencia de ação. Mas no final, para mostrar o tom do filme, os heróis acabam culpados por tudo.  
A lei do bom samaritano. 
Essa lei americana, instaurada nos anos 70, garantia proteção para uma pessoa que cometesse um crime para ajudar outra. Como arrombar um carro para resgatar uma criança passando mal. Assim como o simples caso de prestar socorro. Como salvar um suicida contra a sua vontade, cena que existe no filme anterior. Os Incríveis se passa em um tempo onde esta lei não existe e por isso, pessoas podem ser processadas por tentar ajudar. Ou seja, a família Incrível foi culpada por tudo o que aconteceu no começo do filme. 

O Recomeço...     ...De novo... 
A família Incrível tem uma chance de recomeço graças a um milionário excêntrico com uma proposta boa. Contratar heróis e televisionar os seus atos para assim conseguir mudar a lei. Seu antigo pai sempre teve grande contato com heróis, sempre acreditou e os apoiou. Mas quando os heróis foram banidos, se viu sozinho enquanto bandidos invadiram sua casa. 
A proposta era irrecusável e todos estavam muito felizes, até que avisaram que só poderiam começar com a Mulher Elástica. Para total desespero do Senhor Incrível. Que claramente se via como o mais capaz. E assim como no primeiro filme, o Senhor Incrível tem que lidar de novo com o fato de ninguém o querer como herói, apesar de sua grande capacidade. 

A mudança de papeis  
Susan, a Mulher Elástica, se tornaria a heroína de ação do filme enquanto o Senhor Incrível seria o homem da casa cuidando da família. Ela foi realmente negligenciada no primeiro filme como heroína, mas neste filme ela é reconhecida como uma heroína extremamente capaz e responsável para fazer o papel dos heróis voltarem aos holofotes. Ela teria a jornada de heroína de ação e principal ligação da trama de mistério que mais tarde atingiria a sua família.   
Por outro lado, o Senhor Incrível teria toda uma jornada machista de fortalecer seu laço de respeito e responsabilidade por sua família. O que inclui respeitar, apoiar a volta de sua esposa ao papel de heroína e desempenhar o papel de pai. 

Uma mulher Incrível 
E mais uma vez eu repito o óbvio. O ideal heroico, romântico e machista sempre teve espaço para heroínas. Helena, a Senhora Incrível tem suas próprias cenas de ação com sua própria identidade e abusando da versatilidade da personagem. Seus poderes elásticos permitem uma grande agilidade, se atirar a grandes distancias, planar, fazer bom uso do cenário e ainda tem todo um estilo de luta próprio. O filme usa e abusa da versatilidade da personagem. 
E uma grande heroína merece um vilão misterioso. 
Desde o começo, ela enfrenta um vilão que consegue hipnotizar as suas vitimas usando ondas de rádio através da tela de qualquer TV. E isso a coloca em uma dinâmica de mistério e investigação que lembra boas histórias de detetive.

O lado Machista da História 
O Senhor Incrível, por outro lado, tem toda a sua jornada pessoal de se colocar no papel de sua esposa. Cuidar dos filhos, aprender a respeitar e apoiar as aventuras heroicas dela. E o principal que motivou o personagem por muito tempo, que é provar pra si mesmo ser capaz. 
E embora o Senhor Incrível comece tudo errado, a interação dele com os filhos é muito divertida. O roteiro consegue mostrar a transformação do personagem através de coisas simples como ajudar o Flecha com matemática e a Violeta com o quase namorado que nem lembra dela por ter tido as suas memorias apagadas. 
Mas também a sua jornada de exaustão física ao ter que lidar com o bebe Zezé e aos poucos descobrir que ele tem nada menos que 17 poderes! Só eu que reparei que Zezé tem poderes que fazem homenagem aos X-men? 


A nova turma e as novas confusões 
O filme apresenta novos heróis para incrementar o final. Dentre elas, temos uma personagem nova que rouba a cena justamente pela simpatia. Uma vez que é uma novata extremamente insegura, mas com a sinceridade de se afirmar como uma fã da Mulher Elástica. E que, mesmo insegura, carrega um grande poder muito útil no final do filme. 
Por outro lado, também temos a volta de Edna, a estilista que faz as roupas de nossos heróis. Dando um show no pouco tempo de cena com o bebe Zezé. 
Por outro lado, faz questão de trabalhar muito bem os personagens antigos em novas aventuras e situações. Embora o filme tente recontar a trama do primeiro apenas mudando os personagens de lugar, ele consegue divertir. E se o primeiro filme era uma homenagem direta ao Quarteto Fantástico de Stan Lee e Jack Kirby que construíram personagens humanos com super poderes em uma época onde não existia o universo cinematográfico da Marvel, o segundo filme é uma continuação que respeita os personagens enquanto os coloca em novas situações. 


De fato: A Disney é a empresa mais machista desde começo do século XXI justamente por fazer o melhor uso atual do ideal masculino heroico e romântico de personagens que percorrem jornadas para aprender valores e virtudes para fazer o bem. São vários títulos clássicos tanto pela Disney quanto pela Pixar e pela Marvel. Histórias cheias de lições de moral. 
Altamente recomendado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário