segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Os Imperdoáveis


   Clint Eastwood, porra!
   Quem mais simboliza tão perfeitamente o conceito de machismo do que esse grande ator e diretor?
   E quem melhor para mostrar que o machismo é o ponto de vista e a atitude masculina? A qual é plenamente capaz de nos entregar obras profundas que falam do ser humano e de seus conflitos pessoais?

   Pois hoje eu vou falar um pouco sobre esta obra de arte.
   Um filme ao mesmo tempo poderoso e intimista. Um Western que questiona completamente os próprios mitos, expõe fraquezas, dores e os próprios demônios que vivem em todos nós...

Os Imperdoáveis (Unforgiven) 1992
Dirigido por Clint Eastwood
Escrito por David Webb Peoples

   A história deste filme começa em uma noitada num puteiro. Em Wyoming, 1880, dois jovens cowboys resolvem fazer uma festa particular com as putas.
   Uma cena que mostra o que todo mundo imaginava que acontecia no andar de cima de todo bom saloon. A putaria estava comendo (literalmente) e tudo estava indo maravilhosamente bem quando de repente uma das putas percebe e começa a rir do pau pequeno de um dos rapazes. O que é suficiente para que ele começasse a agredir violentamente a moça. Retalhando assim o seu rosto...

   Os rapazes são imediatamente presos e tem uma conversa bem séria com o Xerife (Gene Hackman). O qual estipula que eles saiam livres devendo apenas indenizar o dono do puteiro. O que deixou as putas muito putas.
   Ou seja: o filme começa como um soco no estomago. Mas também mostra que nem tudo é o que parece.    Os cowboys não são pessoas ruins de verdade. Não se dedicam a atividades criminosas ou a fazer mal para outras pessoas. Mas sim, cometeram o maior erro de suas vidas. Um deles, inclusive, se arrepende muito disso e fala sobre isso com a pobre moça. A violência só aconteceu pela mais pura insegurança de um homem com o tamanho do próprio pau.

   Outra coisa que o filme mostra é a misoginia e o preconceito que as putas sofrem. Isso não está no filme por acaso. Afinal o filme está genuinamente criticando o preconceito e as injustiças cometidas contra elas.      Em nenhum momento a injustiça é mostrada como engraçada, incentivável ou aceitável.
   E justamente por causa da injustiça que elas colocam um preço pela cabeça de ambos...

   E é então que entra em cena Schofield Kid (Jaimz Woolvett) que é um novo assassino que pretende matar a ambos e pegar a recompensa. E a melhor maneira de fazer isso é convidar William Munny (Clint Eastwood em um dos melhores personagens que já fez), que foi um grande assassino. Relutante no começo, Munny só aceitou por que sua família precisava do dinheiro. Convidando o sócio antigo Ned Logan (Morgan Freeman).

   E então o que esses três personagens tem a contar sobre o filme?
   Esses três homens não são heroicos justiceiros. Não existe glamour ou qualquer artimanha para criar fascínio sobre os personagens foras-da-lei. Eastwood tem um enorme dom de humanizar seus personagens e este filme mostra isso de forma crua e honesta. Schofield Kid é um assassino que nunca matou ninguém na vida e ainda por cima tem a visão tão boa quanto uma toupeira.
   Ned é um malandro putanheiro que quer mais é pegar a recompensa e comer as moças da cidade e Munny; Bom, William Munny foi um assassino cruel que matou homens, mulheres e crianças. Seu passado é negro e o mesmo nem mesmo acreditava mais em redenção.
   Mas Manny conheceu sua mulher anos atrás e abandonou a vida do crime. Segundo suas próprias palavras; Ela o concertou...

   Vou chamar a atenção para esta última parte.
   Meninas, o sentido do romantismo para um homem é algo realmente profundo. Capaz de fazer um homem mudar de vida, construindo ou destruindo a própria vida de acordo com o andar dos relacionamentos. Um homem que ama de verdade é capaz de morrer pelas pessoas que ama.
   William Munny foi capaz de mudar de vida e se arrepender de seu passado. E a morte de sua mulher o atormenta diariamente...

   Ao mesmo tempo outro assassino chegando na cidade; English Bob (Richard Harris) e seu biografo W. W. Beauchamp (Saul Rubinek). Desta vez temos toda a glamourização do assassino profissional. English Bob se porta como uma verdadeira celebridade e realmente quer provocar fascínio pela própria figura.

   Little Bill Daggett - Desmistificando o velho Oeste na porrada!
   Clint Eastwood deu um grande presente para Gene Hackman com este personagem fodão.
   O Xerife Little Bill Daggett não gostou nem um pouco dessa história de assassinos contratados em sua cidade e começou chutando o velho Bob Inglês todo o caminho até o xilindró. Reacionário e porrador, este Xerife ainda fez questão de desmascarar o assassino e reduzi-lo a farsa que é.
   A humilhação é tanta que English Bob é abandonado por seu biografo e foi expulso da cidade.
   Enquanto que o Xerife fica contando com muito bom humor sobre os mitos, lendas e podres da vida de pistoleiros. Mostrando que todo o fascínio pela vida de bandido não passa de farsa.
   Vale a pena assistir o filme de novo para rever algumas das histórias do Xerife Little Bill...

   A cidade está assegurada da atividade criminal quando William Munny e seus companheiros chegam no cair da noite. Debaixo de uma chuva forte que deixou Munny com pneumonia. E enquanto Ned e Kid foram tratar com as prostitutas, Munny ficou sentado na mesa do Saloon passando mal e tremendo como um pinto. E é nessa hora que chega o Xerife. Little Bill não gostou nada do fato de um pistoleiro armado estar na cidade dele e trata de dar uma boa surra em Munny. Mas uma surra das grandes mesmo, de fazer um homem se arrastar pelo chão e fugir.
   
   O filme praticamente quebra as pernas dos mitos de uma heroica vida bandida no Velho Oeste. William Munny adoece e apanha do xerife enquanto seus amigos fogem pela janela...

  Quando encontram Munny, ele está quase morto e fica dias se recuperando do que aconteceu. E quando acorda, finalmente os três bandidos decidem matar os dois cowboys que começaram tudo. Mas não sem ficarmos sabendo que Ned e Kid tem feito fiado no puteiro. Os três partem então para uma tocaia próximo de onde os cowboys trabalham.
   Vou chamar a atenção para o momento onde eles matam o primeiro cowboy. Quando Munny acerta um tiro no estomago do rapaz e ele agoniza sabendo que vai morrer. É a primeira morte do filme!

   E não é só a primeira morte de um Western passado mais da metade do filme. Mas também é uma morte humanizada que mostra a dor e o sofrimento do Cowboy de um modo que entendemos o que ele está sentindo. Onde ele revela que se arrepende do que fez e implora por um pouco de água. E num gesto de boa vontade até mesmo seus assassinos lhe cedem um momento para que seus amigos alcancem água para ele.

   Talvez vocês tenham notado que eu não estou contando o filme inteiro, mas é para que vocês queiram ver o filme mesmo.

   Com a morte do Cowboy, a fazenda fica em panico e outros empregados se juntam para proteger o cowboy restante. Que fica escondido para evitar novas emboscadas. Munny e Kid precisam então esperar pela hora em que o cowboy vai usar o banheiro. Sozinhos, já que Ned decide ir para casa e deixar a recompensa com os dois companheiros. Como o sanitário era o velho método de buraco na terra com uma casinha própria, era só uma questão de tempo até o alvo sair.
   E quando ele saiu, Kid foi ao seu encontro e o matou cagando!

   Seria cômico se não fosse trágico. Depois disso temos uma hora de reflexões sobre matar alguém.
   Quando Munny diz a Kid que matar um homem é uma coisa infernal, você tira tudo o que a pessoa já teve e que já terá. E nesta hora entendemos que muitas das coisas ruins que Munny fez no passado também ocorreram por causa de alcoolismo.

   Mas acho que já contei bastante do filme para dar aquela curiosidade de ver ou rever esse pequeno clássico. Ganhou Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor ator Coadjuvante e Melhor Montagem...  Simplesmente foda...


   

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